Panorâmica Histórica da Inserção dos Jardins-Escolas João de DeusNasceu em Lisboa numa casa da Rua do Salitre em 1878. Era o terceiro filho do Poeta João de Deus.
O pai estimava-o muito e confiava nele, com ternura profética dizia acariciando-o: “O João com a sua cabeça pequena há-de ir longe!...” Havia de empenhar a sua vida na defesa da sua obra.
A identidade com o nome do pai, por quem sente carinho e orgulho, cria –lhe, no entanto, uma sombra tutelar da qual procura libertar-se para criar o seu próprio rumo. –“Sou o João sem nome”, dizia, por vezes, com certa amargura. Vendem-lhe numa livraria de Lisboa um poema autografado de seu pai que pela data e timbre do papel descobre que ser seu.
À data da morte de seu pai, e da extraordinária manifestação popular que lhe é feita, João de Deus Ramos contava 18 anos incompletos mesmo sendo tão novo assume a chefia da família e prepara-se para continuar a missão ideal que assumira o Poeta-Educador: cuidar da educação do povo e da criança portuguesaParte para Coimbra para cursar Direito instalando-se numa república estudantil na Couraça de Lisboa. Aí encontra João de Barros, companheiro de casa, e com quem havia de manter até à sua última hora de amizade fraterna que foi tão importante para ambos.
Como caloiro é recebido em triunfo, com as ruas atapetadas de capas e dispensado das praxes académicas então em uso. O colega que me relatou este facto acentuou que era este único caso deste género a que tinha assistido.
Em 1911, já integrado na Associação de Escolas Móveis, pelo Método João de Deus e Bibliotecas Ambulantes, que por sua proposta passaria a designar-se Associação de Jardins-Escolas João de Deus, funda, em colaboração com o Orfeão Académico de Coimbra dirigido por António Joyce, o 1.º Jardim-Escola João de Deus.
Receberia juntamente com o Orfeão, um louvor oficial assinado pelo então Ministro do Interior Silvestre Falcão e publicado no Diário do Governo n.º 58 do ano de 1912.
Em casa de seu pai encontra ambiente para a eclosão das suas ideias republicanas e democráticas que havia de seguir até final da sua vida.
Em 1912 é eleito Governador Civil da Guarda.
Em 1913 é deputado democrático por Lamego.
Ainda em 1913 é Governador Civil de Coimbra.
Em 1915 é deputado por Alcobaça.
Em 1920 é Ministro da Instrução Pública.
Em 1925 é Ministro do Trabalho.
A sua ação política centra-se na defesa da criança e do povo. Entre as suas deliberações citarei algumas:
numerosas crianças recolhidas no Refúgio e misturadas com criminosos e marginais são devidamente atendidas e resguardadas;
regulamenta o exercício das Farmácias e das Casas de Penhores;
atende à situação dos doentes e faz obras no manicómio;
empreende uma campanha de proteção aos operários da indústria vidreira que estavam então em crise;
como Governador Civil de Coimbra procura regulamentar a emigração;
em 1928 empreende uma viagem de estudo ao Brasil.
Tendo vivido sempre ligado a um grande idealismo político, teria alguns desenganos que o levaram a pensar escrever as suas memórias políticas com o título “Tascos Perdidos”, memórias que, infelizmente não chegou a iniciar.